sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Quase quatro anos fiquei com o mesmo celular.....




Quase quatro anos fiquei com o mesmo celular. Quatro anos é tipo uma eternidade para a tecnologia. No final de sua vida ele mal aguentava o Whatsapp e o Gmail instalado, tinha que ficar limpando arquivos praticamente todos os dias, depois de ter desinstalado boa parte dos meus aplicativos antigos. Sabia o que era o Instagram porque todo mundo falava e usava, mas eu mesma nunca tive a possibilidade de instalar se eu quisesse continuar que meu celular continuasse funcionando. Waze, só usava dos amigos. Selfie, os poucos que eu tirei, foi depois de infinitas tentativas tirando fotos às cegas, porque não tinha câmera frontal. Filtro? Só se fosse de barro, de papel celofane, filtro solar.

Mas depois desses longos anos, resolvi aposentar meu amigo velho de guerra, meu amigo que já tomou tantos tombos nessa vida, e continuou lá, firme e forte e funcionando. Meu amigo que tomou banho de cerveja, e continuou sóbrio (pelo menos mais do que eu), meu amigo que tirou tantas fotos com qualidade duvidosa, mas de grande significado para mim. Meu amigo que impediu que eu me perdesse loucamente em São Paulo, com seu google maps.

Seu substituto é tudo aquilo que todos os celulares (dizem que) queriam ser. Memória infinita, posso instalar Waze, Instagram, Facebook, Evernote, Linkedin e todos os outros milhares que eu nem sei direito para que servem. A velocidade eu mal consigo acompanhar de tão rápida. Meu antigo amigo, eu via a barra de tempo rolar lentamente toda vez que eu queria buscar algo no Goolgle. Com ele aprendi paciência. Com ele aprendi a só postar coisas que eu achasse realmente legais, porque a velocidade dele não permitia muitas postagens inúteis em um tempo hábil. Com o novo sistema de segurança do substituto, é capaz de nem eu conseguir acessá-lo em um dia de distração.



Mas seu magnânimo substituto zombou da minha cara, zombou da minha caipirice tecnológica. Fiz uma conta no Instagram porque ele ridicularizou minhas fotos antigas, instalei o Evernote, porque ele disse que eu sou muito desorganizada. Eu tentei argumentar que eu funcionava melhor escrevendo e que preferia usar uma linda caderneta que eu tinha comprado mas ele foi cruel e irredutível: “você quer um processador 2.4 GHz Quad Core para usar uma caderneta???Não seja ridícula. E tem mais outros milhares de aplicativos que você precisa instalar se você quiser ser digna de me ter como celular.”




Agora penso no meu antigo amigo, jogado dentro da gaveta escura e em como as coisas eram mais simples, em como ele não me exigia atenção e me deixava passar mais tempo no mundo real do que brincando com seus milhares de aplicativos mágicos. Olhando para seu magnânimo substituto, começo a sentir que talvez minha vida não seja tão interessante para preencher toda essa infinidade de possibilidades desse mundo virtual com selfies elaborados e frases de efeito.


terça-feira, 23 de abril de 2013

O que a fisiologia tem a ver com a reciclagem e com o teatro


Nada. Tudo. Tudo a ver comigo, isso sim. Isso e muitas coisas mais....Vira e mexe me perguntam qual é o meu problema, por que eu não consigo focar em uma coisa só, por que eu estou sempre “inventando moda”. Já tentei buscar explicação em tudo quanto é lugar, terapia, búzios, cara e coroa, I Ching, filosofia, matemática, mãe Diná e a única resposta que consigo dar para essa pergunta, parafraseando o meu amigo Chicó, é: Não, sei, só sei que foi assim. Foi assim que eu nasci, sabe? Essas coisas meio de alma, meio de genes, meio de construção social... Ás vezes queria muito que fosse diferente. Queria muito conseguir contar uma história linear, um currículo equilibrado e exemplar: Formada em X, mestrado em 2x, doutorado em 3x e pós-doutorado em 4x e trabalhando em 5x. Juro que eu queria. Mas acredito que se eu for escrever minhas atividades, acabarão por me internar devido à crise aguda de identidade. Formei em Biologia, hoje (tento) estou para terminar um mestrado em Fisiologia, atualmente trabalho com reciclagem, faço teatro nas horas vagas, não posso ver um tambor que a mão me coça pra batucar, já arrisquei cantar, pintar, dançar, tocar. Gastei boa parte de minhas economias em uma máquina fotográfica bacana, estou namorando um curso de cinema, já pensei em fazer uma segunda graduação em engenharia....e....Estou prestes a enlouquecer. Porque isso é coisa de doido, coisa de gente que não tem foco, coisa de gente que não vai ganhar dinheiro nunquinha na vida. Alguém me dá uma ritalina, por favor? Rivotril? Estou comprando 10 quilos de foco, no atacado, faz em 10 vezes no cartão? Mas às vezes sabe que eu gosto? Gosto porque adoro aprender, adoro começar do zero, apesar daquele medão que dá na barriga...é como se fosse um eterno se apaixonar, e quando mais eu olho, mais eu me apaixono muitas e muitas vezes. Parece criança em loja de brinquedo! Mas não sei como pegar os brinquedos na prateleira. Tem que ser um brinquedo só, se não o dinheiro não dá.....Ah, dinheiro, que amado inimigo. Por que a gente não pode ser pago para aprender para o resto da vida, para se encantar, para abrir uma porta nova todo dia, para se redescobrir a cada minuto? Que difícil essa história de ter que escolher UMA coisa só no mundo inteiro que vai te sustentar, UMA coisa só para “ser”. Mas como assim, ser? Não tenho que ser nada , eu já sou eu, prazer! – Não, não, você não pode ser tudo, tem que ser uma coisa só! Ou você é médico, ou advogado, ou professor, ou engenheiro, ou bailarino, ou astronauta.  O mundo vai virar uma loucura se você for médico astronauta bailarino! Imagina, seus pacientes vão viver no dançando no mundo da Lua! A não ser que você seja psiquiatra para resgatar seus pacientes do mundo da Lua....

            Mas aí, às vezes, quando me sinto na deriva de mim mesma, perdida entre um monte de pedacinhos de mundo, eu consigo fazer alguma coisa bonita. Às vezes, bem às vezes, a angústia de achar um só lugar no mundo dá lugar para imaginação e pego todos os meus pedacinhos, juntos com todos os pedacinhos do mundo que eu amo e jogo tudo dentro do caleidoscópio. E que coisa bonita esse tal de caleidoscópio hein? Jogo-me no chão e fico horas a girá-lo e a imaginar os milhares de pedacinhos formando os mais belos desenhos: Atriz bióloga engenheira, bióloga recicladora cineasta, cantora pintora bióloga, escritora cantora engenheira fotógrafa professora.....



            Para mim tudo tem a ver com tudo, por isso que é tão difícil pegar uma coisa só! A Biologia tem tudo a ver com arte, porque é a mais pura arte da vida, reciclar pelo meio ambiente, a música comunica onde as palavras não alcançam para falar de coisas complicadas de maneira simples, como a própria ciência, as lentes da câmera mostram olhares que nossos olhos não enxergam e nos permitem conhecer o mundo de formas que jamais imaginamos, formigas viram elefantes, baleias viram formigas na imensidão do oceano e nós viramos pó na imensidão do universo...Para mim, sem a parte não se entende o todo... e sem todo não se entende a parte...Mas como encaixar isso tudo numa vida prática com contas para se pagar, já que nem só se sonho vive o homem?  Onde é preciso ser especialista? Não se pode se especializar em tudo, só se eu vivesse 195 mil anos...Quem tiver a resposta, eu dou uma balinha sete belos. Tá bom, um saco de balinhas sete belo.
            Na verdade, acho que a explicação mais plausível pra isso tudo é que ainda não cresci. Ao invés de ter 26 anos, tenho 6 e ao me perguntarem o que eu quero ser, eu ainda respondo: bailarina, astronauta e veterinária....



( Tudo bem, eu realmente não cresci. No quesito estatura eu tenho 13....)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os pequenos prazeres de Amelie..E os meus?





Os pequenos prazeres de Amelie

Quem viu o filme Amelie Poulain sabe do que eu estou falando. Quem não viu também não tem problema. Não é pré-requisito para continuar acompanhando o texto. Amelie Poulain é personagem do filme “O fabuloso destino de Amelie Poulain”. Ela tem pequenas manias muito peculiares que lhe dão muita alegria e prazer, como enfiar a mão bem fundo em um saco de cereal, quebrar a cobertura do crème brûlée com a colher, virar no escuro no cinema e observar o rosto das pessoas...entre várias outras citadas no filme. Fico pensando que nos dias de hoje,  onde a palavra de ordem que vem imperando no mundo é “tenho que”, quais momentos nos sobram para curtir nosso pequenos prazeres? Já parou para fazer uma lista dos pequenos prazeres da Carla? Dos pequenos prazeres do Alberto? Dos pequenos prazeres do Rivandoscleidson?
Estamos sempre cheios de temos que. Temos que ser bem informados, temos que ser politizados, temos que ser cults, temos que ser hipster, temos que ser hippies, temos que assistir a todos os filmes franceses/russos/brasileiros que estão naquele circuito desconhecido dos cinemas que ninguém mais ouviu falar, temos que ser descolados, tatuados, tradicionais, discretos, temos que ser únicos de alguma forma mirabolante, temos que ser vistos-ouvidos-notados, temos que ter a razão, temos que conhecer aquela banda desconhecida que ninguém mais conhece, temos que ser de direita-de-esquerda-meio-centro, temos que ser sustentáveis, temos que ser saudáveis e magérrimos, temos que comer orgânicos, temos que ser carnívoros/vegetarianos/macrobióticos, temos que ser do contra, temos que ser da vanguarda, temos que salvar as baleias, os golfinhos, temos que desmatar tudo em prol do progresso, temos que publicar 55 artigos na Nature/Science e ter 346 citações, temos que ser ateus/evangélicos/politeístas/pagãos/satanistas/cristãos, temos que falar inglês, temos que ter noções de mandarim com pitadas de francês, temos que ir em todas as exposições do MASP, temos que viajar para 2345 países antes de morrer, temos que conhecer todas as baladas mais iradas da cidade, temos que ser populares, temos que ser reservados,  temos que ser solteiros e pegar geral, temos que casar, ter filhos e 2 cachorros, temos que ganhar 10.000 por mês, temos que, temos que, temos que....Veja bem, não estou questionando o estilo de vida de ninguém, só estou questionando se este estilo de vida parte verdadeiramente da pessoa ou é mais um tenho que que veio de brinde em tudo o que engolimos no dia a dia? Hoje questiono a mim mesma, se as coisas que eu faço, faço porque quero e gosto ou porque tenho que. 
Por que estou pensando nisso tudo? Porque hoje ao chegar em casa, senti-me como não me sentia há muito tempo, senti um dos pequenos prazeres de Leticia. Abri a porta cansada, morrendo de fome e sem forçar e nem vontade de preparar alguma coisa saudável ( mas você tem que comer comidas saudáveis), abrir meu armário peguei um pacotinhos de batatas fritas sabor cebola de uma marca genérica ( nossa, mas você tem que provar aquela marca y ou nossa, batatas fritas? Como você não se alimenta bem!), peguei meu amado catchup e sentei-me sozinha para ver TV ( sozinha? Mas você tem que arrumar um namorado), e para melhorar ainda mais estava passando Jackass 3 ( o que? Você assiste essa merda! Você tem que assistir  uns filmes melhores!). Eu vos digo, vazia tempo que eu não me sentia tão feliz e plena com esses pequenos prazeres. Eu simplesmente senti como se eu não tivesse que fazer nada alem de estar ali, sozinha, sentada em meu sofá, comendo batata frita sabor cebola com catchup e assistindo um cara ser arremessado de bung jump dentro de um banheiro químico com merda voando para todo o lado. Não, eu não tinha que estar preparando o melhor prato do mundo com produtos coletados da minha horta, assistindo um filme com meu namorado gostoso e politicamente engajado em salvar o mundo, nem assistindo o ultimo documentário sobre as desigualdades nas capitais brasileiras. Não que eu não pudesse ou não quisesse fazer nenhuma das coisas acima, mas só em saber que eu não tinha que fazer nenhuma das coisas acima, senti-me livre e em paz como há tempos eu não me sentia. Não acho que só devamos fazer tudo o que a gente quer o tempo inteiro, lógico que não, mas e o nosso tempo no meio de tantos tenho que? Onde fica? O tempo para pendurarmos nossas máscaras atrás da porta e sermos quem realmente somos, não a pessoa que somos no facebook, no twitter, no instagram, ou a pessoa que somos ao andar na rua, ou a pessoa que somos na rodinha de amigos do trabalho/faculdade/de infância, ou a pessoa que somos para o chefe, para o orientador, para o professor, para os pais, namorado, para o garçom, para o pedinte.....Pendurar a máscara atrás da porta e sermos apenas nós para nós mesmos como se não houvesse mais ninguém no mundo e assim podermos viver os nossos pequenos prazeres. Sem se preocupar se é certo, errado, in ou out, bonito, feito...etc...etc...etc...


E você, já viveu hoje um dos seus pequenos prazeres?



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Flor de inverno




E naquele momento, toda a dor, a angústia, a insegurança, a solidão, desapareceram. Como que por milagre, o mundo voltou a ter cor novamente. Um sorriso estampado na cara. Atrás do computador, enquanto trabalhava, sozinha ela ria, de orelha a orelha. E ninguém entendia. E ela ria. Não via nada engraçado no computador, apenas olhava para uma tela vazia. E ela ria. Não uma gargalhada escancarada, daqueles que parecem que existem para querer provar para o mundo que se está bem, enquanto por baixo a alma agoniza. Não, ela não precisava provar para ninguém. O sorriso vinha do fundo, bem no fundo da alma, e ia se alastrando pelo corpo, como raízes que quebram o asfalto. E o corpo inteiro sorria, aliviado, como que se houvesse retirado um espartilho que o impedisse de respirar. Não, não era garantia de que não haveria mais dor, porque ela sabia que o inverno estava apenas começando. Mas aquele sorriso, como uma flor que nasce no gelo, talvez viesse para lhe mostrar, que o inverno, não haveria de ser, afinal, tão rígido. Dependeria somente dela regar aquela flor, para lhe  lembrar  que a primavera não tardaria a chegar...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Oração às pessoas amadas





Não, não mudem por mim
Mesmo se em um momento de insanidade eu insistir
Peço que apenas sejam, sejam vocês, em suas melhores essências
Pois cada coisa tem uma beleza e seu valor, quando ela apenas é ela mesma
Nunca poderemos admirar a beleza de uma pedra, ao querer que ela seja flor
Nunca poderemos admirar a beleza de uma árvore, ao desejar que ela vire ave
É preciso parar de desejar o que não se é, para se conseguir admirar o que se é
Ao reconhecer  nossos limites, seremos capazes de melhorar sempre
Melhores com nós mesmos, com o mundo
Não, não peço que me protejam das verdades e das dores da vida
Preciso ouvir quando não quero, preciso ouvir o que não quero
Preciso ser desafiada em minhas verdades e minhas certezas para aprender com as diversidades do mundo
Mas apenas peço compreensão quando nossos pensamentos e corações divergirem
Muitas vezes vou precisar errar, vou precisar cair, mas só assim saberei que vivi o meu melhor
A vida é um eterno aprender a andar
Cair e levantar todo dia
Apenas peço para que estejam lá para me ajudar a levantar quando eu precisar
Meus passos são de tamanho diferente dos seus passos, por isso não poderei sempre manter a mesma velocidade
Mas iremos nos reencontrar com certeza no final dessa jornada, ainda que nos distanciemos por alguns momentos
Apenas espero o melhor de vocês para vocês
Espero ter maturidade de ficar feliz quando vocês estiverem felizes
Ainda que as nossas felicidades não sejam as mesmas
Eu os amo porque vocês existem
E apenas espero ser amada pela minha existência